Quantos filmes dirigidos ou roteirizados por mulheres você já assistiu?
Em 2015, elas representavam apenas 19% de todos os cargos por trás das câmeras das 250 principais bilheterias do cinema norte-americano, de acordo com o estudo The Cellulloid Ceiling. No Brasil, se analisado o período entre 2002 e 2012, só 14% dos títulos tinham uma mulher na direção, segundo o levantamento feito pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Os números são ainda mais preocupantes quando a questão é a representatividade feminina à frente das câmeras. Pesquisa da Universidade de San Diego mostra que 12% dos longas-metragens mais vistos em 2014 eram protagonizados por mulheres.
Em outras áreas do audiovisual, como o setor de Games, por exemplo, a situação não é melhor. Segundo a ONG Women’s Media Center, entidade cofundada pela atriz Jane Fonda, enquanto 47% dos jogadores de videogame são mulheres, 88% dos desenvolvedores de jogos são homens.
“São números preocupantes e que precisam ser olhados com atenção, pois temos muitas variantes importantes: representatividade e quantidade de oportunidades para mulheresnegras, porcentagem de mulheres em cursos de audiovisual e quantas se inserem no mercado, participação feminina em festivais, entre outras”, afirma Malu Andrade, coordenadora de Inovação da Spcine e idealizadora do encontro Mulheres no Audiovisual.
Formado por profissionais que atuam no setor, o grupo autônomo realizou um primeiro encontro na sede da Spcine, em setembro passado. Durante a conversa informal, foram levantados os principais desafios enfrentados pelas mulheres nesse mercado. Assédio, salários desiguais e representatividade nas telas integraram a pauta do dia.
Como resultado, as participantes criaram um grupo online, aberto a novas participantes, que já soma mais de 3,8 mil membros. “É um grupo heterogêneo, com muitas demandas e muita vontade de empoderar as mulheres”, comemora Malu.
O intuito do grupo é discutir e elaborar ações que possam equalizar a situação para mulheres no audiovisual. “Ter um panorama completo nos ajudará a elaborar uma política sólida. É fácil criticar uma política de equidade de gênero quando se estáno lado privilegiado. Precisamos sim discutir com a sociedade o tema e buscar soluções”, conclui.
Espaços de diálogo
O primeiro resultado das discussões do grupo Mulheres no Audiovisual foi a mostra de Mulheres no Cinema, seleção de filmes produzidos e dirigidos por mulheres, seguido de debates sobre o tema.
Realizado pelo Coletivo Lumika, o evento aconteceu no início de novembro, apresentando os títulos “De Menor”, de Caru Alves de Souza, o documentário “Bollywood Dream – O Sonho Bollywoodiano”, de Beatriz Seigner, e a animação “Guida”, de Rosana Urbes .
Novos eventos com foco na discussão sobre representatividade feminina, na frente e atrás das câmeras, estão na agenda deste ano. Nos dia 17, 19 e 20 de março, o Coletivo Vermelha realiza “Quem Tem Medo das Mulheres no Audiovisual”, no Museu da Imagem e do Som (MIS-SP).
O encontro parte da discussão de gênero para debates mais específicos como o impacto da manutenção de estereótipos nas produções infantis e a representatividade da mulher negra no audiovisual brasileiro.
Políticas
Como empresa pública de audiovisual, e tendo a diversidade como um dos valores que dão base à sua missão, a Spcine está desenvolvendo algumas medidas tendo como foco a igualdade de gênero no setor.
Já no próximo edital de curtas-metragens, previsto para o segundo semestre deste ano, serão aplicadas medidas de paridade de gênero na composição do júri. A empresa está avaliando outras ações para este ano.
Confira o vídeo sobre a primeira reunião do grupo #MulheresNoAudiovis